segunda-feira, 12 de julho de 2010

Isabel Allende estará na Flip com novo livro, sobre escravidão

Isabel foi uma autora importante na juventude da minha geração. Muita gente gostaria de vê-la em Paraty, os ingressos para a sua palestra se esgotaram em minutos. Harper Lee também foi importante para a minha e muitas outras geraçãoes, com seu único e esplêndido livro O sol é para todos, que completa 50 anos.
Leia abaixo duas matérias; de Ubiratan Brasil no jornal  O Estado de S.Paulo, sobre Isabel Allende e de Sharon Churcher na Folha de S.Paulo, sobre Harper Lee.
A Marca de Isabel
Escritora que vem para a Flip fala sobre escravidão, que inspira seu novo livro
Ubiratan Brasil
Em uma Olimpíada, o feito seria considerado recorde mundial: em pouco mais de 10 minutos foram vendidos todos os 850 ingressos para assistir à palestra da escritora Isabel Allende na próxima Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, que começa dia 4 de agosto. Nada surpreendente - a chilena que tem por hábito começar a escrever todos seus livros sempre no dia 8 de janeiro (em 1981, naquela data, ela iniciou uma carta para o avô que estava morrendo e que se transformou no seu primeiro grande sucesso, A Casa dos Espíritos) encanta multidões - especialmente de mulheres - ao criar personagens de traços fortes e característicos.
É o caso de Zarité, a escrava negra que domina A Ilha Sob o Mar (Bertrand Brasil), romance histórico que Isabel vai lançar durante a Flip. Vendida aos 9 anos para um fazendeiro das Antilhas durante a colonização francesa no século 18, ela não sofre a mesma dor e humilhação dos outros escravos, mas descobre a miséria de seus patrões brancos. Quando os escravos se rebelam e queimam as plantações da ilha, Zarité consegue fugir para Cuba com o patrão e os filhos dele até se estabelecer em uma nova fazenda em New Orleans, nos Estados Unidos.
Para a escrita, Isabel Allende aprofundou-se em pesquisas e descobriu detalhes tão sórdidos da escravidão que, atordoada, foi atacada por uma misteriosa dor de estômago, só extinta depois de dado o ponto final. A busca da exatidão não foi em vão - o livro fala sobre racismo, vaidade, mesquinhez e (mais desolador) a crueldade emocional imposta à escrava. Mas, típica personagem feminina da galeria Allende, Zarité sai-se vencedora, ao menos na sua alma.
Autora de livros traduzidos em mais de 30 idiomas e com mais de 51 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo, Isabel estará presente também em Zorro, o Musical, que estreia sexta-feira, no Teatro das Artes, e que é inspirado em sua obra Zorro - Começa a Lenda, sobre um dos personagens mais fetichistas de todos os tempos. Sobre o trabalho, Isabel conversou com o Estado, por e-mail
Qual é o seu interesse na escravidão como tema?
A ideia do livro surgiu em uma visita a New Orleans. Eu pretendia escrever sobre essa cidade e sobre o Caribe mas, ao fazer a pesquisa histórica, compreendi que o tema era muito mais extenso. O caráter de New Orleans foi definido em grande parte há 200 anos, com a chegada de 10 mil refugiados, colonos franceses brancos, que fugiram da revolta de escravos em São Domingo (hoje Haiti) e se estabeleceram na cidade. A pergunta lógica que fiz é: o que realmente se passou lá? Por que tiveram de fugir em massa? Assim surgiu o tema da escravidão, que se apoderou de minha imaginação e do livro. O tema é atual: hoje, existem 27 milhões de escravos contados pelos movimentos abolicionistas e seguramente muitos milhões mais que não foram computados. A definição de um escravo é a de uma pessoa presa contra sua vontade, obrigada a trabalhar sem remuneração, sob a ameaça de violência e sem escapatória. A escravidão moderna tem muitas faces: aldeias inteiras que vivem sob a "servidão por dívida" (só no Paquistão, um milhão de trabalhadores agrícolas vive nessa condição), há escravos na indústria da pesca, madeira, minas, roupa, tapetes, etc. Além disso, existem escravos domésticos, maltratados, que não recebem educação nem têm direitos, são invisíveis. No Haiti, por exemplo, há 300 mil crianças escravas. E não podemos nos esquecer da escravidão sexual. O pior tráfico humano acontece no sudeste asiático, onde as fronteiras são muito permeáveis, mas há tráfico de escravos em toda parte, inclusive nos países europeus e na América do Norte.
Desde A Casa dos Espíritos, os seus personagens femininos se tornaram famosos. Acredita que o mesmo vai acontecer com Zarité? Como foi o processo de criação?
Creio que Zarité me apareceu em um sonho ou naquele momento do amanhecer, quando estou despertando e minha mente está aberta a todas as possibilidades: a hora dos fantasmas. Vi Zarité com toda clareza: uma africana alta, imponente, maçãs do rosto salientes, pálpebras caídas, pescoço longo, mãos elegantes, voz profunda, movimentos lentos e graciosos. Quando o perfil de Zarité tomou forma, pude escrever o livro sem problemas: ela me ditou.
A ILHA SOB O MAR
Tradução: Ernani Sso, 476 págs. R$ 49.

Harper Lee, a best-seller silenciosa
Por Sharon Churcher
Apesar dos óculos de sol grossos e pretos, há algo de familiar na mulher frágil de 84 anos que é auxiliada a caminhar até o lago. Um sorriso percorre seu rosto quando os patos e gansos a cercam para bicar os pedaços de pão trazidos do lar para idosos onde vive em um apartamento modesto. Trajando camiseta limpa, mas gasta, e calças de algodão soltas, ela mal atrai o olhar dos transeuntes. Mas seu rosto está na capa de um livro que já fascinou mais de 40 milhões de leitores pelo mundo e que várias vezes foi classificado como um dos dez mais importantes publicados no século 20. Ela é Harper Lee, cujo único livro, O sol é para todos (José Olympio), de 1960, recebeu um Prêmio Pulitzer, foi traduzido em quase 50 línguas e levado ao cinema em um filme homônimo de 1962 estrelado por Gregory Peck e premiado com o Oscar. Além disso, converteu Harper em multimilionária. Eu me aproximo da escritora com nervosismo, carregando uma caixa dos melhores bombons que consegui encontrar na cidadezinha de Monroeville, no Alabama. Foi uma conversa breve, mas isso não surpreende. Harper tem dito muito pouco desde a publicação de O sol é para todos, que completa amanhã 50 anos. Não escreveu mais nada desde então, excetuando alguns contos no início dos anos 1960. No aniversário do lançamento do livro, milhares de fãs do livro vão se reunir em Monroeville para um festival de três dias que vai celebrar sua obra. Ninguém espera que Harper faça um discurso de boas-vindas a eles. Na verdade, ela passou as últimas cinco décadas vivendo em isolamento quase total. (Para ler, em inglês, visite o site do Daily Mail)

Um comentário:

  1. Oi Vera
    Descobri mais sobre a amiga. Passei pelo blog, li receitas e um conto. Bonito e descontraído o teu espaço, parabéns.
    Bjs

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