quinta-feira, 29 de abril de 2010

Gustavo Rosa, a penúltima visão da realidade


Ganhei este livro de meu amigo Jacob Klintowitz e é uma das belas obras que ele já publicou sobre arte. Jacob tem mais de 100 títulos no mercado, um melhor do que o outro. Publico um trecho para leitura:
"O mundo pictórico do artista é afastado do drama e da tragédia e instala um contexto de suavidade primaveril que, para alguns, pode parecer um delírio. O permanente humor delicado e os componentes cotidianos de sua arte nos lembram algumas lições da sabedoria oriental ao rejeitar o mundo da ilusão como coisa perene: rir um pouco, registrar os componentes da vida cotidiana, equivaler todas as coisas e elementos pictóricos, tratar da mesma maneira um brinquedo, um homem e um pássaro, é uma maneira de dizer que o universo tomado em si mesmo é uma ilusão e que não se deve dar tanta importância aos fatos cotidianos. Não se trata do melhor mundo possível, pois isto implicaria em uma teologia profunda, mas simplesmente de um mundo existente que é fugaz e dura o tempo de um suspiro. Para o artista, a ilusão do real humano enquanto totalidade equivale a todas as outras ilusões. O que ele manifesta no humor delicado e compreensivo com que trata seus personagens. A fama, o poder, a fortuna, a beleza, são importantes, mas temporários. Contudo, o cuidado extremo de sua pintura, o empenho na busca da qualidade, está a nos dizer que, entre tudo, não devemos esquecer de cultivar o nosso jardim, como queria Voltaire.”

terça-feira, 27 de abril de 2010

Ruy Castro participa de projeto comunitário de leitura no RJ

Meu amigo Ruy Castro é o convidado do Ciclo Leitura em Ação, que integra o projeto Espaço de Leitura, criado pela Ação da Cidadania para levar a literatura às camadas mais pobres da população, com a doação de bibliotecas móveis a comunidades do Rio, que funcionam sob a responsabilidade dos integrantes dos comitês locais. É hoje, às 18h30, e o tema: “Leituras de futebol: a hora e a vez de ler Garrincha”. Ruy lerá um trecho de seu livro Estrela Solitária - Um brasileiro chamado Garrincha. A notícia completa está no site da PublishNews.
E na terça-feira, dia 04, Ruy estará em Porto Alegre para uma palestra de abertura do seminário sobre Nelson Rodrigues. Leia a notícia hoje na Zh.
No mês passado li um livro do Ruy Castro que eu ainda não tinha lido, Era no tempo do rei, o primeiro romance dele e adorei. O texto é aquele que a gente já conhece das biografias famosas do Ruy, como O anjo pornográfico, ou seja, saboroso, preciso, bem construído. A trama ele inventou a partir de uma base documental construída em exaustiva pesquisa histórica, o que já é sua marca registrada. Assim nasceu o perfil adolescente de D. Pedro I e seu amigo Leonardo numa história cheia de aventuras e informações da época, uma delícia de livro.
Leia mais (e pode comprar) no site da Livraria Cultura.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Capas de livro com papelão reciclado


Sábado à tarde fiz uma oficina de confecção de capas de livro com papelão, ministrado pela artista plástica Lúcia Rocha, de São Paulo. Super bacana, a atividade foi promovida pela FestiPoa Literária 2010, na Praça da Alfâdega, na rua mesmo, e quem, queria parava pra ver ou pra botar a mão na tinta. A oficina faz parte do projeto Dulcinéia Catadora, e o papelão é todo reciclado. O legal da coisa é que eles usam todo o papelão, não precisa ser uma parte lisa, aliás, eles até preferem que se deixe a grafia das caixas, os furos, as marcas do grampos, das fitas adesivas e se pinte por cima ou usando as grafias como elementos da capa. Lúcia ensinou também como costurar o miolo do livro. Claro que, depois da aula, você chega em casa e viaja na confecção da sua capa, pois vale tudo. Eu já vou usar outras aplicações, com colagem, outras tintas, e fitas coloridas para amarrar o miolo, etc. Quando tiver alguma capa bem bonita pronta eu faço uma foto pra postar aqui no blog.

sábado, 24 de abril de 2010

Torteloni de nozes com molho gorgonzola

Que felicidade, encontrei aspargos verdes frescos no Nacional da Wenceslau Escobar, por R$ 7,40 o feixe. E já comprei mais um de aspargos brancos. Fiz os verdes no jantar de sexta, para acompanhar tortelonis de nozes e de funghi, com molho gorgonzola e molho de tomate, respectivamente. Eu já tinha pronto o molho de tomate, que precisei usar, pois meu freezer ficou com a porta semi-aberta da noite de quinta para sexta e descongelou tudo... odeio quando acontece isso ou quando falta luz e demora a voltar (em geral no verão escaldante aqui de Porto Alegre) e descongela tudo também, é um inferno. Inevitavelmente tem comida que vai pro lixo e fico furiosa, pois sempre aproveito tudo da geladeira. Dessa vez se foram duas bandejas de peixe, de traíra e de tilápia (lamentei mais pela traíra, pois com a tilápia fiquei desconfiada depois da palestra sobre menopausa, a nutricionista afirmou que os peixes de criatórios são cheios de hormônios, etc: leia o post).
Os tortelonis eu comprei prontos, congelados (também estavam no freezer que pernoitou aberto...), no Mercado Público, na banca de produtos coloniais, bem no miolo do grande templo gastronômico. Pra mim, ir ao Mercado Público é terapia. O pacote com 500gr. custou R$ 6,90, raso de barato, pois é de primeira mesmo! Tem também no Machry, aqui na Zona Sul, mas o mesmo pacote custa R$ 11,38...
Veja a receita do molho de gorgonzola, que é ridículo de tão fácil de fazer e combina super bem com o torteloni de nozes: perfeito pra um jantar prático e maravilhoso.
RECEITA
Molho de gorgonzola
INGREDIENTES
Quatro colheres de sopa de requeijão cremoso
Um pedaço equivalente a três colheres de sopa de queijo gorgonzola
MODO DE FAZER
Numa panelinha de ferro com tampa, aqueça o requeijão e logo acrescente o gorgonzola e deixe derreter. Apague o fogo e junte os tortelonis de nozes já cozidos, misture delicadamente e tampe. Leve à mesa na panela. Serve até quatro pessoas.
Acompanhamos de um Carmenere, que é uma uva que eu adoro.
Dica: Você pode substituir o requeijão por creme de leite, use o que tiver em casa.
O cozimento dos tortelonis: você leva uma panela com bastante água para ferver e coloca todo o pacote na água fervendo (os tortelonis ainda congelados mesmo), espera levantar novamente a fervura e está pronto. Retire com uma escumadeira funda, aos poucos, com cuidado pra não arrebentar os tortelonis, e vá colocando direto na panela do molho.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

A arte faz parte do ser humano desde a mais tenra infância

Coluna de Ricardo Silvestrin publicada hoje no jornal Zero Hora
Uma grande pergunta
Estava conversando com uma turma de alunos de primeira série. Hoje, primeira série é formada por crianças de cinco e seis anos. Tinham trabalho com alguns poemas meus do livro Pequenas Observações sobre a Vida em Outros Planetas.
Convidei-os a encontrar comigo a palavra sim escondida dentro de outras palavras no poema Planeta Sim. Disse o poema: “No Planeta Sim, tudo é sempre assim:”. Logo disseram sim dentro do assim. Segui: “- Pai, posso não sei quê?/A resposta é simples: sim.”. Disseram as crianças: sim dentro do simples, no começo da palavra. Continuei: “- Mãe, eu quero isso e aquilo:/sim, sim, sim.”. Falei que agora viria o sim disfarçado, passando por dentro de outras palavras: “É um sim sem fim.”. Mostrei que, no sem, o sim colocou um e na frente do i e passou disfarçado. E, no fim, o sim botou um f na frente do s e passou escondido. Agora disse que o sim viria de costas, com o contrário dele: “Tem outra resposta/no Planeta Sim?/Não.” O não, o outro lado do sim.
Falei isso tudo para mostrar a eles a sonoridade das palavras. A escola e a cultura parecem ouvir e nomear só a rima. Só fim da palavra. Como se as palavras tivessem som apenas no final. Também estava mostrando a relação entre som e significado. O poema do Planeta Sim era todo criado com a palavra sim e seu som. Isso depois de responder a várias perguntas de como se faz um poema, de onde se tira as ideias. Mostrei que todo poema nasce, antes de mais nada, da criatividade com as três partes da palavra, o significado, o som e o desenho. Mas, sobretudo, pelas surpresas com o sentido, com as ideias.
Chegou um momento em que as perguntas eram quase sempre a mesma: como é que uma pessoa faz isso? Eu disse que não sabia como nem por quê. Apenas fazia e gostava. Até que uma das perguntas foi de uma profundidade que me fez comprovar mais uma vez que a arte é algo do ser humano. Seja ele de que idade for. Não se vive sem uma forma de arte porque é algo que nos constitui como indivíduos. Não é apenas um lazer ou um prazer, mas uma questão pela qual temos o maior interesse.
A pergunta do piá de cinco ou seis anos foi se eu descubro essas coisas ou as invento. Repare na sutileza entre descobrir e inventar. Depois de acordar do transe, da surpresa, respondi que faço as duas coisas. Por exemplo, achar a palavra sim dentro de outras palavras é uma descoberta. Estava ali para ser descoberto. Já criar poemas como o Planeta Poft, em que começo assim: “Em Poft, o pum é perfumado.”. Isso é invenção. Nunca fui a esse planeta. Eu o inventei.
O colégio dessa vez era o Anchieta. Mas questões assim têm aparecido em todas as escolas por onde ando. Falamos de poesia. Conversamos sobre estética, sobre arte. Porque existe também uma inteligência artística, para formular de uma maneira que está na moda.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Em busca do feminino perdido

Li esta matéria na revista Bons Fluídos de março, e traz uma análise bem interessante do universo feminino a partir da mitologia.
"Aqui estamos nós, mulheres, com direitos que jamais tivemos em toda nossa história. Ao mesmo tempo, a ampliação dos nossos inúmeros papéis, distribuídos em duplas ou triplas jornadas, nos rouba a vontade e o tempo necessários para entrarmos em contato com o nosso lado feminino mais profundo. Veja o que perdemos com isso e qual será a mudança que teremos de realizar para transformarmos de vez essa realidade".
Vale a pena ler toda a matéria, acesse o link da revista.
E a edição ainda oferece um teste pra você saber qual o seu perfume ideal, bem bacaninha. Olha o que deu o meu resultado:
Família Oriental. Você é misteriosa, hipnótica e dinâmica, e gosta do jogo da sedução. Seu charme é contagiante e você tem consciência do seu poder. Orgulhosa e imprevisível por natureza, você se supera em situações inesperadas e desafiadoras. Seu perfume espelha seus desejos. Você tem uma predileção à família oriental. Você gosta dos tons de baunilha, âmbar, incenso e sândalo, e arrisca a usar fragrâncias com caráter. Você convida as pessoas ao seu redor a entenderem você. Elas precisam estar preparadas para viajar com você pela trilha do seu perfume.
Perfume indicado: Kenzo (Flower by Kenzo).

domingo, 18 de abril de 2010

Hermès e Gap usam papelão na vitrine

Em Milão, personagens de fábulas e contos de fadas saíram dos livros para ganharem formas e cores em vitrines da Hermès. Ilustrações originais das obras, como "Os Três Mosqueteiros" e "Alíce no País das Maravilhas", foram dispostas ao fundo de desenhos coloridos de animais.
Leia a notícia no site Usefashion.

sábado, 17 de abril de 2010

Esperando a menopausa, com horror, claro, mas consciente

Hoje de manhã assisti a uma palestra, "Alimentação e suplementação na menopausa - prevenções para antes, durante e depois", com a nutricionista Sálua Finamor, promovida pela farmácia de manipulação Verbena, que inaugurou há alguns meses no Copacabana Center, na Vila Assunção. Ótima palestra, a moça entende do assunto e é muito estudiosa. Como sabemoes, a coisa é um horror, menopausa é uma desgraceira completa. Mas podemos tomar precauções e nos prepararmos pra enfrentar esse período, cuidando bastante da alimentação. E claro, com acompanhamento médico, pois milagres não existem.
Bueno, a lição que ficou da palestra é na verdade a lição de sempre, uma alimentação saudável (aquela dieta mediterrânea que tanto se fala ainda é a melhor pedida), contribui, e muito, pro nosso bem-estar. Mas ainda assim, o que achei mais interessante foi a ênfase à compra dos alimentos. Não basta só comer peixe, por exemplo, temos de saber que peixe estamos comendo. Vejam só: o salmão que encontramos nos mercados em geral é importado do Chile e é um salmão de cativeiro, assim como a tilápia. Os criatórios de peixes visam o lucro, com produção em larga escala: os bichos são confinados no menor espaço possível e alimentados com ração e, portanto, carregam uma tonelada de toxinas... (leia um artigo muito esclarecedor no blog e-Boca Livre). Mais ou menos como os frangos, que também são criados em confinamento e se alimentam de ração. Eu evito a todo o custo a carne de frango. Só compro frango caipira, a diferença é gritante e começa pela carne grudada no osso. Nos frangos de cativiero a carne é totalmente descolada do osso, já reparou?? Pense só numa coisa (além da ração que eles comem...): um bicho que não dá um passo em toda a sua vida pode ser saudável? Pois é, já o frango caipira continua se exercitando.
Mas voltando à menopausa, então, tome cuidado na hora das compras. Produtos orgânicos são uma opção consciente, eu já escrevi muito sobre esse tema. Não hesite, vale a pena pagar um pouco mais. E procure pelas feiras de orgânicos, temos algumas muito boas em Porto Alegre. Aqui na Zona Sul onde moro, a feira acontece aos sábados de manhã, em frente à Igreja Nossa Senhora das Graças, na Tristeza. No Bom Fim, há anos existe a Feira Ecológica, também aos sábados pela manhã, que é maravilhosa! Tem de tudo e ainda é um belo passeio. Mesmo nos supermercados a gente encontra muitos produtos orgânicos: pesquise. Uma coisa que você tem que ter em mente é de que o produto orgânico é muito mais rico em nutrientes e em sabor e você vai usar menos quantidade pra obter um prato saboroso e de qualidade. Vejam só: a cultura dos orgânicos regenera o solo e mantém a sua vida intacta. O alimento, por sua vez, é mais nutritivo, possui menor quantidade de água em sua composição (aproximadamente 20%) comparado com um produto convencional. Isto significa que os nutrientes estão mais concentrados, assim como o açúcar e as vitaminas. Por isso, o sabor destes produtos é todo mais acentuado, o que faz a delícia do verdadeiro gourmet. É como um chocolate com elevado percentual de cacau, você vai comer um pedaço bem menor do que o de um chocolate vagabundo, vai ficar bem mais satisfeito e bem servido.
Outra coisa interessante da palestra: evite água com gás. Refrigerante obviamente a gente deve evitar sempre, mas água com gás, que eu adoro, também... fiquei triste, mas é importante saber. Prefira sempre água sem gás do que com gás, pois toda a bebida gaseificada atrapalha a absorção de cálcio pelo organismo. Claro que de vez em quando a gente pode tomar uma água com gás, e até uma coca-cola... mas o bom é evitar ao máximo que se puder. Eu não compro mais refrigerante. Deixo pra tomar eventualmente fora de casa em algum lugar, se der muita, muita vontade. Pois se a vontade não é muito grande, já resisto e peço água ou suco. Resulta que meu filhote também não gosta de refrigerante, ele sempre pede suco nos restaurantes, e eu acho o máximo!
Outra coisa importante: o processo de menopausa começa a partir dos 35 anos. Aos poucos, vamos apresentando os sintomas da queda do estrogênio. E entre os 40 e os 50 anos as oscilações são dramáticas. Sendo que entre os 48 e os 50 começa a estabilizar essa oscilação toda, mas para entrar em queda definitiva (suspiro). E aí estamos na menopausa. Eu já comecei a sentir sintomas muito desagradáveis, sendo o principal uma TPM ainda mais acentuada do que as que eu já tinha, ou seja, o inferno completo... Mas tudo bem, o jeito é encarar a fase de forma bem consciente, pois informação é um bem valioso, em qualquer situação. E buscar recursos na medicina.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Prêmio Joaquim Felizardo


Ontem fomos prestigiar meu escritor Sergio Faraco (na foto Divino, Vera, Faraco e a sua filha Angélica), que recebeu o Prêmio Joaquim Felizardo, no Teatro Renascença.
Criado pela Secretaria Municipal da Cultura (SMC), o Prêmio Joaquim Felizardo homenageia em diversas áreas os artistas, intelectuais, iniciativas, mídia e patrocinadores de destacada contribuição para a cultura da cidade.

Ficamos emocionados com a Orquestra Infanto-Juvenil do IPDAE, da Lomba do Pinheiro, que subiu ao palco com vários dos seus integrantes. E ficamos gratificados de ver, no outro dia, uma matéria sobre o grupo no jornal ZH, pois reclamávamos justamente do pouco espaço na mídia para iniciativas como essa.

Os Premiados
01) Patrocinador Cultural: Walmart
02) Mídia
- Apoiador Cultural: Luís Grisólio
- Jornal: Hélio Nascimento
- Rádio: Programa Sessão Jazz - Paulo Moreira
- Tevê: Alice Urbim
- Especial: revista Norte
03) Tradição e Folclore: Glênio Fagundes
04) Descentralização da Cultura: Orquestra Infanto-Juvenil do IPDAE
05) Manifestações Populares: Rosalina Conceição - Bambas da Orgia
06) Memória Cultural: UFRGS - Recuperação de Prédios Históricos
07) Fotografia: Dulce Helfer
08) Cinema: Antônio Carlos Textor
09) Artes Plásticas: Danúbio Gonçalves
10) Dança: Coletivo de Dança Sala 209
11) Teatro: Ivo Bender
12) Música: Celso Loureiro Chaves
13) Literatura: Sérgio Faraco
14) Especial - Paixão pela Cultura: Ruy Carlos Ostermann
15) Especial - Intelectual: Antônio Hohlfeldt

Delícias judaicas da Sabra

Ontem fui na Palavraria levar para o Fernando, organizador da FestiPoa Literária, o DVD do curta-metragem adaptado do conto de Sergio Faraco, Um aceno na garoa, que será exibido na quarta-feira, dia 21, no CineBancários, e como eu estava ali ao lado da Fernandes Vieira, dei um pulinho na Sabra pra comprar algum quitute para o jantar.
Adoro todas as comidinhas judaicas da Sabra e comprei Varenikes (pasteizinhos cozidos recheados de batata ou ricota), que é só aquecer no forno. R$ 15,00 a bandeja com 20, é um bom preço. Mas claro que nunca consigo sair com um único pacote e comprei também uns salgadinhos de parmesão e alho (o formato parece de uma hóstia), levam apenas um pouquinho de farinha de trigo pra dar liga na massa e por isso o gosto é bem forte. R$ 5,00 o saquinho, mas, como eu já falei, é forte e, portanto, você não vai devorar todo o saco de uma vez só. Pensei que o Homus daria uma boa combinação (veja a foto) e não me enganei, fica muito gostoso, equilibrando sabores forte e suave. Comprei ainda um potinho de Berinjela picante, que é sempre uma delícia, por R$ 6,00.
Aproveitei que estava na frente do Zaffari e entrei pra fazer as outras compras do dia-a-dia e peguei ainda pão árabe, da Baalbek, por R$ 3,35 (saco de 400gr) e alho-poró. Adoramos beirute de presunto e queijo com alho-poró em rodelinhas e um fio de azeite. Faço na torradeira mesmo.

SERVIÇO
Sabra - R. Fernandes Vieira, 366. Bom Fim. Tel: 3311.3666
Zaffari Fernandes Vieira – R. Fernandes Vieira, 401. Bom Fim. Tel: 3311 5868.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Viva! Aspargos frescos por um bom preço

Aspargos frescos são uma dádiva da natureza. Pra mim, não há vegetal mais saboroso. A primeira vez que provei foi uns 20 anos atrás, no tradicionalíssimo restaurante do Hotel Ca´d´Oro, em São Paulo, num almoço com o José Onofre e o Armando Coelho Borges, e até hoje lembro de como vibrei. Era bem desse jeitinho que passo a receita pra vocês, só salteado na manteiga. Ficou sendo um dos meus pratos prediletos.
No Hemisfério Sul, a época dos aspargos é na primavera, entre setembro e dezembro, mas como são cultivados também em estufas, podemos encontrá-los o ano todo. Sempre que vou ao Mercado Público de Porto Alegre, dou uma especulada nas bancas, mas o preço me desanima, acho caro R$ 15,00 por um molho magrinho de aspargos. Mas na sexta-feira encontrei no supermercado Nacional um molho de aspargos brancos, grossos, lindos, por R$ 6,90 e comprei na hora, claro! São importados do Peru, os maiores produtores hoje em dia, junto com o México, e cultivam diversas variedades, como estes brancos (crescem privados da luz) e verdes (são mais ácidos) e também os violetas (mais doces). Fiz para o almoço de domingo na casa da minha mãe, pois ela estava preparando uma paleta de cordeiro no forno, temperada como só ela consegue, misturando alho, alecrim, sálvia, pimenta e vinho. Levei um pão de centeio com sementes de papoula e uma baguete, da Carina Barlett Boulangerie (a melhor padaria da cidade, segundo votação da Revista Veja Comer & Beber Porto Alegre deste ano - eu assino embaixo). A minha mãe ainda preparou uma bela salada de folhas verdes e outra salada de batatas com maionese caseira para o pimpolho. Acompanhamos de um Cabernet Franc.

RECEITAS
Aspargos na frigideira
(Para 4 pessoas)
INGREDIENTES
Um molho de aspargos brancos ou verdes, grossos ou finos.
Manteiga
Sal
Salsa
MODO DE FAZER
Aqueça 2 colheres de sopa de manteiga numa frigideira larga, junte os aspargos inteiros, salpique um pouco de sal e cozinhe por cerca de 3 minutos (aspargos finos) ou 4 minutos (aspargos grossos), virando-os para que cozinhem por igual. Acrescente um punhadinho de salsa picada. Os aspargos brancos ficarão lindos, com um tom castanho.
Dicas: Eu sempre gosto de acrescentar um toque de vinho (ou de outra bebida alcóolica) no preparo dos pratos, mas os aspargos são meio complicados. De qualquer forma, dá pra dar um toque com um vinho branco encorpado.
Acrescente poucos grãos de pimenta branca na hora de aquecer a manteiga, se quiser dar um perfume a mais e um picante no prato.
Leve para a mesa na própria frigideira e passe o pão no molhinho do fundo.

Aipo e aspargos grelhados
(Para 4 a 6 pessoas)
Corte 110g de aspargos e 12 pedaços de aipo de 12cm e unte tudo ligeiramente com óleo de noz de macadâmia (a rainha das nozes, natural da Austrália) e asse no forno quente durante 3 minutos ou até estarem tenros. Deite por cima um pouco de vinagre balsâmico, salpique com pimenta e cubra com raspas de queijo parmesão (ou mesmo com parmesão ralado grosso, o melhor que temos nos supermercados é o da Kunzler).
Essa receita é do Livro essencial da cozinha vegetariana. Há outras ótimas receitas com aspargos, aliás, com todos os vegetais, é um livro indispensável na biblioteca de qualquer amante da culinária.

SERVIÇO
Supermercados Nacional – Loja do bairro Tristeza, na AV. WENCESLAU ESCOBAR, 2770
Carina Barlett Boulangerie – Rua João Telles, 237. Bom Fim. POA. Tel.: 51 3222.7878. Todos os dias, das 9h às 21h.
Grand Hotel Ca’d’Oro – Rua.Augusta, 129. Centro. SP. Tel: 11 3236.4300. DDD Gratuito: 0800 17 00 90. O hotel fechou em dezembro de 2009, com a promessa de reabrir depois de uma reforma – leia no blog da Alexandra Forbes e no Estadão.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

O cortiço

A coluna de hoje do David Coimbra é cirúrgica na análise do que está acontecendo no Rio de Janeiro e que é um retrato de toda uma vergonha do nosso Brasil.
(...) O Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão, mas nem ao aboli-la lavou-se de sua desonra. Agora mesmo, no Rio de Janeiro flagelado, lateja essa dor. Pois quem são esses que morrem sufocados pela terra que se desprende dos morros cariocas? Descendentes de escravos e ex-escravos expulsos do Centro quando o Rio se transformou no que hoje é. (...)Essa gente pingente das favelas não foi libertada da escravidão; foi atirada à liberdade. Para eles, nunca houve planejamento, muito menos investimento. Hoje, Lula dá certa atenção a esses desgraçados. Não é o ideal, claro que não. Porque não é uma ajuda estratégica; é uma ajuda tática. Mas, ao menos, é algo. Para quem não tinha nada, talvez seja muito. (...)
A coluna deve ser lida na íntegra, acesse o blog do David Coimbra.

domingo, 4 de abril de 2010

Páscoa em Gramado ainda é uma boa pedida


A cidade esteve muito cheia e o trânsito lento. Mas ainda é um lugar bacana de se ir na Páscoa, por toda a tradição do chocolate.
A dica aqui é dos chocolates Prawer, que teve grande procura pelos ovos e outras delícias, assim como os lanches da Casa da Velha Bruxa. E não é por ser meu cliente, é que o chocolate da Prawer é mesmo o melhor chocolate artesanal que temos aqui no Sul. Aliás, é meu cliente por ser o melhor, como eu poderia trabalhar com outro chocolate, sendo tão criteriosa nestes assuntos gastronômicos?
Visite o blog da Prawer e saiba mais.
A decoração nas ruas de Gramado perdeu para Canela, mais criativa e lúdica. Mas para comer, Gramado ainda ganha disparado. Uma ótima dica continua sendo o Moscerino, do Muskito, sempre atencioso e apresentando sua cozinha competente. No jantar de sábado eu pedi nhoque com abobrinha, cogumelos e molho de vinho e ervas, meu sobrinho Pedro pediu nhoque com molho gorgonzola e iscas de filé, a namorada dele, Marina, pediu um talharini verde com camarões e o meu filhote Cássio (que está se saindo um ótimo fotógrafo - veja a foto aí abaixo), seu eterno spaghetti ao pesto. Os pratos estavam todos excelentes. E o Di Pietro, do Josiano, também merece ser citado. O buffet está cada vez melhor e no almoço da Sexta-feira Santa era difícil optar entre tantas opções de peixes, maravilhosos. Fui no bacalhau grelhado no ponto, tenro e úmido, perfeito.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Caça ao ninho em Gramado

Promovemos o evento no Parque Knorr nesta Páscoa e foi muito bacana.
Veja a matéria da Rede Bandeirantes, mas não reparem no meu cabelo todo desgrenhado..
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Comer mal é um vício ou temos escolha?


Reportagem da revista Época desta semana:
Um novo estudo sugere que a gordura cria dependência como cocaína e heroína. O guru da alimentação saudável dá 20 lições para evitar ser refém do lixo alimentar

Francine Lima (texto) e Sattu (ilustrações)

Quando alguém menciona drogas viciantes, o que vem à mente são substâncias ilegais como cocaína, crack ou heroína. Pelo que se sabe, não há níveis seguros para o consumo dessas drogas. A orientação é ficar longe delas. Desde a semana passada, a ciência médica acrescentou à lista de produtos capazes de provocar dependência algo assustadoramente próximo de nós: a comida gordurosa. Um estudo com ratos publicado na revista Nature Neuroscience sugere que o consumo de alimentos ricos em gordura leva ao desenvolvimento de um tipo de dependência parecida com a que afeta os viciados em cocaína ou heroína. O cérebro dos ratos superalimentados, assim como nos dependentes químicos, apresenta uma queda acentuada nos níveis de substâncias responsáveis pelas sensações de prazer, conhecidas como receptores de dopamina. Com menos receptores, o organismo precisa de quantidades de gordura cada vez maiores para que o cérebro registre satisfação. É o mesmo mecanismo cerebral do vício humano em drogas. A pesquisa, feita apenas em ratos, confirmou em laboratório pela primeira vez aquilo de que muitos especialistas já suspeitavam: certos tipos de comida viciam.
“Espero que este estudo mude a maneira como muitos pensam sobre comida”, diz Paul Johnson, coautor do estudo realizado no Scripp Research Institute, da Flórida. “Ele demonstra como a oferta de comida pode produzir superalimentação e obesidade.”
Ao vincular dependência química à alimentação, a pesquisa divulgada na semana passada lança uma série de novas questões – e reanima velhos fantasmas – no debate sobre comida. Levada às últimas consequências, ela pode até mesmo sugerir que os consumidores são manipulados pela indústria do fast-food do mesmo modo como jovens são aliciados por traficantes na porta das escolas. Trata-se do tipo de estudo que traz alento àqueles que acreditam que somos reféns de uma indústria alimentar inescrupulosa, incapaz de manifestar uma preocupação genuína com a saúde – e afirmam que o cidadão precisa de regras quase policiais para controlar a comida, assim como precisa da polícia antidrogas.
A diretora do Nida (o instituto do governo americano contra o abuso de drogas), Nora Volkow, chegou a afirmar que o novo estudo ajudará a aplicar o conhecimento adquirido no combate à dependência química ao tratamento da obesidade. Depois de proibir o fumo e limitar o consumo e a propaganda de álcool, a brigada dos militantes pelo controle alimentar passa, portanto, a dispor de mais argumentos para defender restrições à batata frita ou ao churrasco. “É improvável que proíbam a picanha como fizeram com a cocaína”, diz o neurocientista Jorge Moll, coordenador do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, do Rio de Janeiro. “Mas o experimento com ratos sugere que deixar de comer compulsivamente não depende só de força de vontade.”
Afinal, o que há de fantasia e de realidade nessa visão? Estaríamos indefesos diante da gordura como diante do tabaco – e seu consumo deveria ser restrito? Até que ponto a indústria alimentar tem tanto poder de controlar o que come o consumidor? Não é possível a cada um de nós, de acordo com nosso livre-arbítrio, escolher uma alimentação saudável e viver comendo bem?
Para responder a essas questões, é preciso analisar de perto as evidências científicas. Os próprios experimentos com ratos sobre o vício oferecem evidências ambivalentes. Em seu estudo, Johnson e seu colega, Paul Kenny, dividiram os animais em três grupos. O primeiro grupo foi alimentado com ração comum. O segundo teve acesso restrito a comida gordurosa, comparável à que encontramos numa lanchonete. O terceiro teve acesso quase ilimitado. Os ratos do último grupo se esbaldaram numa comilança compulsiva. Ao final de 40 dias, estavam mais gordos e, além do maior peso, foi observada alteração nos centros cerebrais de prazer similar à de ratos drogados com substâncias como cocaína e heroína.
Os militantes passam a ter mais argumentos para defender restrições à batata frita e ao churrasco
ORGÂNICO
Ele é contra qualquer comida que nossos avós não reconheceriam como tal. Mas isso deixa muita coisa saudável de fora Mas outra experiência realizada em 1981, também com ratos e tóxicos, lança outra luz sobre o tema. Ela foi conduzida pelo psicólogo canadense Bruce Alexander, da Universidade Simon Fraser. Alexander construiu um verdadeiro parque de ratos, com 8,8 metros quadrados. O lugar era aquecido, com brinquedos coloridos e bastante espaço. Os ratos do parque e outro grupo de ratos – estes engaiolados – receberam água com morfina por 57 dias, até ficar viciados. Depois, passaram a ter água pura como opção. O grupo enjaulado continuou consumindo água com morfina. Os ratos do parque reduziram gradualmente o consumo da droga. Apesar dos sintomas de abstinência, quando recebiam água com morfina, preferiam beber água pura. Alexander usou a experiência para demonstrar que, num ambiente saudável, os ratos – e por analogia talvez as pessoas – conseguem se livrar mais facilmente de um vício. Basta ter condições de fazer a escolha certa.
Convivemos com substâncias potencialmente perigosas o tempo inteiro – álcool, tabaco, remédios e uma infinidade de substâncias ilegais –, sem que nos tornemos necessariamente reféns delas. Com a comida não é diferente: tudo depende das escolhas individuais e das circunstâncias. Há diferentes predisposições ao vício, diz o psiquiatra Marcelo Niel, da Universidade Federal de São Paulo. Alguns podem usar drogas recreativamente sem se viciar, outros ficam totalmente dependentes. Essa diferença depende de componentes genéticos e ambientais, ainda não completamente esclarecidos. O comportamento compulsivo seria uma válvula de escape para ativar centros de prazer. “Em alguns pacientes que comem compulsivamente, se tiramos a comida, eles podem desenvolver sintomas psiquiátricos mais pronunciados”, diz Niel.
Há, portanto, uma dose de oportunismo nas comparações entre gordura e drogas e na defesa de restrições draconianas à indústria alimentar. O ativista americano Michael Pollan ficou conhecido com o livro O dilema do onívoro como um dos maiores críticos da forma como é feita a comida que chega a nossa mesa. Pollan e o italiano Carlo Petrini, fundador do movimento Slow Food (o oposto do fast-food), afirmam que a indústria não para de nos empurrar porcarias goela abaixo. Mas mesmo Pollan acredita que, para combater a obesidade e a má alimentação, o melhor caminho é respeitar o livre-arbítrio. Em seu novo livro, Food rules (Regras da alimentação), lançado nos Estados Unidos no final de 2009, ele sugere que retomemos o controle de nossa vida alimentar por meio da cozinha tradicional, que nos foi legada por nossos pais e avós.
O trabalho de Pollan fornece um dos alicerces do movimento global pela revalorização da comida natural. Ele se propõe a responder a uma questão pertinente à alimentação em qualquer país industrializado: abandonar os modos antigos à mesa e ceder às novidades do mundo moderno faz bem ou faz mal à saúde? Ele já tinha vendido até a semana passada mais de 700 mil exemplares nos EUA. O livro, que não tem data para sair no Brasil, se organiza em torno de 64 frases que qualquer adolescente instruído é capaz de entender (20 delas estão reproduzidas no fim da página). Nos textos curtos que acompanham cada regra, Pollan faz parecer que ninguém precisa acompanhar o noticiário científico nem ouvir nutricionistas para fazer escolhas alimentares certas. Para ele, comer bem é mais simples do que a brigada policial da nutrição ou a indústria querem que a gente pense. Basta se guiar pelas tradições, confiar na cultura alimentar passada de mãe para filho e abandonar tudo o que cheire a ciência moderna como principal referência quando se trata de comida. “Ao longo de quase toda a história da humanidade, os homens acharam a resposta sobre o que comer sem a ajuda de especialistas”, diz Pollan.

Em seu livro anterior, Em defesa da comida, Pollan defendia uma tese parecida. Para ele, a divulgação fragmentada das descobertas da ciência sobre o papel dos nutrientes na saúde humana confunde mais do que ajuda. Ele chama isso de “nutricionismo”. A indústria, afirma Pollan, aproveita as descobertas científicas da semana e lança no mercado alimentos com substâncias pretensamente mágicas. Esse posto já foi da gordura ômega 3, presente naturalmente em peixes como salmão e adicionada artificialmente em algumas marcas de óleo de cozinha. O argumento científico subjacente é que, segundo algumas pesquisas, o consumo do ômega 3 está associado à redução de doenças cardiovasculares. Mas a indústria não diz, segundo Pollan, que a substância não faz milagres sozinha, sobretudo quando integrada a uma dieta desbalanceada. “Quem se preocupa com a saúde provavelmente deveria evitar produtos que fazem alegações quanto a benefícios para a saúde”, diz Pollan.
Iniciada no exterior, a pregação pela alimentação tradicional e natural já chegou ao Brasil. A paulistana Ceni Salles é uma das primeiras brasileiras a investir nela. Em sua infância, numa chácara em Suzano, na região rural do Estado, conviveu com 1.200 espécies de vegetais. Nos anos 80, criou um restaurante natural, Cheiro Verde, e depois uma loja de alimentos orgânicos, o Empório Siriuba. Nos últimos anos, diante da demanda, especializou-se em prestar consultoria para restaurantes e hotéis, montando cardápios. Hoje, é uma das líderes do movimento Slow Food no Brasil. “Adoro os livros do Pollan”, diz ela.
Há duas semanas, o encontro Terra Madre reuniu em Brasília 700 produtores, chefs famosos e pesquisadores da área de alimentos. Eles pregam a convivência entre produtores e consumidores. “Somos todos coprodutores”, diz Ceni. “Nossas escolhas como consumidores orientam o mercado produtor.” Diversas organizações estão se mobilizando para promover o consumo consciente de alimentos. Numa pesquisa do Datafolha divulgada no mês passado, 75% dos pais de crianças entre 3 e 11 anos afirmaram estar preocupados com a qualidade da alimentação dos filhos e com a enorme oferta de guloseimas industrializadas.
Embora tenha seus méritos, a tese anti-industrial de Pollan resvala no radicalismo. Não existe, na vida real, uma divisão absoluta entre o tradicional e o inovador ou entre o natural e o industrializado. A indústria de alimentos não é homogênea. Cada empresa trabalha de acordo com valores diferentes. Não é difícil encontrar, no mesmo supermercado, exemplos de alimentos bons e ruins para a saúde. Ao contrário do que reza o radicalismo de Pollan, produtos inovadores inimagináveis no tempo de nossas avós não são necessariamente nocivos. Tampouco o contrário é verdadeiro. Feijoada completa e leitão à pururuca, embora tradicionais e deliciosos, não são os pratos mais saudáveis em qualquer cardápio.
A industrialização dos alimentos contribuiu para melhorar a saúde. O médico nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia, afirma que a industrialização aumentou a expectativa de vida no mundo ocidental. Em 1900, a longevidade média no Brasil era de 44 anos. Hoje, é de 72, com o aumento da obesidade. Antes da industrialização, todos os alimentos estavam à mercê do tempo e apodreciam mais rapidamente. Nem todos sabiam o momento certo de jogar a comida fora. “A insegurança alimentar predominava”, diz Ribas. No contexto em que se misturam boas e más inovações, a contribuição de Pollan é nos alertar para a necessidade de escolher com cuidado aquilo que comemos. A melhor maneira de comer, aquela que permite evitar a obesidade e preservar a saúde, é escolher o que há de melhor entre as várias opções. Da comida feita no fogão a lenha à prateleira do supermercado, hoje há mais chances de escolher alimentos de qualidade. Ninguém precisa consumir a gordura que provoca obesidade e dependência química em ratos. A informação sobre a indústria de produção e distribuição de comida é a melhor forma que temos para exercer de maneira saudável nosso direito de escolha e nosso livre-arbítrio. Ela ainda é nossa melhor arma contra qualquer vício.