quinta-feira, 22 de julho de 2010

Mesa 20

Por Jacob Klintowitz
Todos os dias eles sentam-se à mesa.
São quatro figuras. Há o sereno Rei de Copas. Muito breve ele morrerá. Ou teria morrido. Há o Sete de Ouros. Ele nunca se olhou no espelho. Há o Anão Nodoso. Ele está esquecido de tudo. E há o Valete Negro. Este perdeu-se num pequeno lago e nunca saiu de lá.
Todos os dias eles sentam-se à mesa e discutem graves questões.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Isabel Allende estará na Flip com novo livro, sobre escravidão

Isabel foi uma autora importante na juventude da minha geração. Muita gente gostaria de vê-la em Paraty, os ingressos para a sua palestra se esgotaram em minutos. Harper Lee também foi importante para a minha e muitas outras geraçãoes, com seu único e esplêndido livro O sol é para todos, que completa 50 anos.
Leia abaixo duas matérias; de Ubiratan Brasil no jornal  O Estado de S.Paulo, sobre Isabel Allende e de Sharon Churcher na Folha de S.Paulo, sobre Harper Lee.
A Marca de Isabel
Escritora que vem para a Flip fala sobre escravidão, que inspira seu novo livro
Ubiratan Brasil
Em uma Olimpíada, o feito seria considerado recorde mundial: em pouco mais de 10 minutos foram vendidos todos os 850 ingressos para assistir à palestra da escritora Isabel Allende na próxima Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, que começa dia 4 de agosto. Nada surpreendente - a chilena que tem por hábito começar a escrever todos seus livros sempre no dia 8 de janeiro (em 1981, naquela data, ela iniciou uma carta para o avô que estava morrendo e que se transformou no seu primeiro grande sucesso, A Casa dos Espíritos) encanta multidões - especialmente de mulheres - ao criar personagens de traços fortes e característicos.
É o caso de Zarité, a escrava negra que domina A Ilha Sob o Mar (Bertrand Brasil), romance histórico que Isabel vai lançar durante a Flip. Vendida aos 9 anos para um fazendeiro das Antilhas durante a colonização francesa no século 18, ela não sofre a mesma dor e humilhação dos outros escravos, mas descobre a miséria de seus patrões brancos. Quando os escravos se rebelam e queimam as plantações da ilha, Zarité consegue fugir para Cuba com o patrão e os filhos dele até se estabelecer em uma nova fazenda em New Orleans, nos Estados Unidos.
Para a escrita, Isabel Allende aprofundou-se em pesquisas e descobriu detalhes tão sórdidos da escravidão que, atordoada, foi atacada por uma misteriosa dor de estômago, só extinta depois de dado o ponto final. A busca da exatidão não foi em vão - o livro fala sobre racismo, vaidade, mesquinhez e (mais desolador) a crueldade emocional imposta à escrava. Mas, típica personagem feminina da galeria Allende, Zarité sai-se vencedora, ao menos na sua alma.
Autora de livros traduzidos em mais de 30 idiomas e com mais de 51 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo, Isabel estará presente também em Zorro, o Musical, que estreia sexta-feira, no Teatro das Artes, e que é inspirado em sua obra Zorro - Começa a Lenda, sobre um dos personagens mais fetichistas de todos os tempos. Sobre o trabalho, Isabel conversou com o Estado, por e-mail
Qual é o seu interesse na escravidão como tema?
A ideia do livro surgiu em uma visita a New Orleans. Eu pretendia escrever sobre essa cidade e sobre o Caribe mas, ao fazer a pesquisa histórica, compreendi que o tema era muito mais extenso. O caráter de New Orleans foi definido em grande parte há 200 anos, com a chegada de 10 mil refugiados, colonos franceses brancos, que fugiram da revolta de escravos em São Domingo (hoje Haiti) e se estabeleceram na cidade. A pergunta lógica que fiz é: o que realmente se passou lá? Por que tiveram de fugir em massa? Assim surgiu o tema da escravidão, que se apoderou de minha imaginação e do livro. O tema é atual: hoje, existem 27 milhões de escravos contados pelos movimentos abolicionistas e seguramente muitos milhões mais que não foram computados. A definição de um escravo é a de uma pessoa presa contra sua vontade, obrigada a trabalhar sem remuneração, sob a ameaça de violência e sem escapatória. A escravidão moderna tem muitas faces: aldeias inteiras que vivem sob a "servidão por dívida" (só no Paquistão, um milhão de trabalhadores agrícolas vive nessa condição), há escravos na indústria da pesca, madeira, minas, roupa, tapetes, etc. Além disso, existem escravos domésticos, maltratados, que não recebem educação nem têm direitos, são invisíveis. No Haiti, por exemplo, há 300 mil crianças escravas. E não podemos nos esquecer da escravidão sexual. O pior tráfico humano acontece no sudeste asiático, onde as fronteiras são muito permeáveis, mas há tráfico de escravos em toda parte, inclusive nos países europeus e na América do Norte.
Desde A Casa dos Espíritos, os seus personagens femininos se tornaram famosos. Acredita que o mesmo vai acontecer com Zarité? Como foi o processo de criação?
Creio que Zarité me apareceu em um sonho ou naquele momento do amanhecer, quando estou despertando e minha mente está aberta a todas as possibilidades: a hora dos fantasmas. Vi Zarité com toda clareza: uma africana alta, imponente, maçãs do rosto salientes, pálpebras caídas, pescoço longo, mãos elegantes, voz profunda, movimentos lentos e graciosos. Quando o perfil de Zarité tomou forma, pude escrever o livro sem problemas: ela me ditou.
A ILHA SOB O MAR
Tradução: Ernani Sso, 476 págs. R$ 49.

Harper Lee, a best-seller silenciosa
Por Sharon Churcher
Apesar dos óculos de sol grossos e pretos, há algo de familiar na mulher frágil de 84 anos que é auxiliada a caminhar até o lago. Um sorriso percorre seu rosto quando os patos e gansos a cercam para bicar os pedaços de pão trazidos do lar para idosos onde vive em um apartamento modesto. Trajando camiseta limpa, mas gasta, e calças de algodão soltas, ela mal atrai o olhar dos transeuntes. Mas seu rosto está na capa de um livro que já fascinou mais de 40 milhões de leitores pelo mundo e que várias vezes foi classificado como um dos dez mais importantes publicados no século 20. Ela é Harper Lee, cujo único livro, O sol é para todos (José Olympio), de 1960, recebeu um Prêmio Pulitzer, foi traduzido em quase 50 línguas e levado ao cinema em um filme homônimo de 1962 estrelado por Gregory Peck e premiado com o Oscar. Além disso, converteu Harper em multimilionária. Eu me aproximo da escritora com nervosismo, carregando uma caixa dos melhores bombons que consegui encontrar na cidadezinha de Monroeville, no Alabama. Foi uma conversa breve, mas isso não surpreende. Harper tem dito muito pouco desde a publicação de O sol é para todos, que completa amanhã 50 anos. Não escreveu mais nada desde então, excetuando alguns contos no início dos anos 1960. No aniversário do lançamento do livro, milhares de fãs do livro vão se reunir em Monroeville para um festival de três dias que vai celebrar sua obra. Ninguém espera que Harper faça um discurso de boas-vindas a eles. Na verdade, ela passou as últimas cinco décadas vivendo em isolamento quase total. (Para ler, em inglês, visite o site do Daily Mail)

quarta-feira, 7 de julho de 2010

ALERTA: Ceasa vende produtos contaminados

Está na Zero Hora de hoje. É uma notícia preocupante, pois praticamente todos os hortifrutigranjeiros que compramos nos supermercados, minimercados e feiras são provenientes da Ceasa.
Mais uma vez, destacam-se as feiras de produtos orgânicos como a melhor opção para a compra desses produtos. Veja as dicas na página BOAS COMPRAS do blog.
Na ZH: Alimentos da Ceasa com problemas
Um estudo feito entre 1999 e 2008 pelas secretarias estaduais da Saúde e da Agricultura, em conjunto com a prefeitura de Porto Alegre e o Centro Estadual de Vigilância em Saúde, revelou que parte dos produtos comercializados na Ceasa estavam contaminados.
O relatório do Programa de Monitoramento de Hortigranjeiros do Estado avaliou a qualidade dos produtos in natura comercializados no local.
Foram coletadas 1.183 amostras de alimentos para verificar a contaminação microbiológica (presença de coliformes), enteroparasitológica (parasitas) e por resíduos de agrotóxicos.
Saiba mais
- Dos produtos analisados quanto à contaminação microbiológica, o tempero verde, com 25,9%, apresentou o maior valor significativo de coliformes fecais. Brócolis e couve-flor apresentaram os menores índices.
- Quanto à presença de parasitas, 74% das amostras de rúcula, radite e espinafre apresentaram contaminação.
- A pesquisa de resíduos de agrotóxicos revelou a presença de inseticidas, especialmente em cebolas (44,4%), abóboras (22,6%) e morangos (16,8%).

terça-feira, 6 de julho de 2010

Ritual

Por Jacob Klintowitz
Procuro sempre. Percorro inutilmente todos os lugares. Repito o movimento e verifico se terei esquecido algum recanto. Caminho sobre os meus passos e mantenho a esperança.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

José Antonio Pinheiro Machado faz justos elogios ao Orquestra de Panelas

A vuvuzela e a boa mesa
No jantar do restaurante Orquestra de Panelas, Anonymus Gourmet lamentou não ter, para manifestar seu encantamento diante dos fatos, uma vuvuzela. Segundo Anonymus, é um instrumento sonoro completo, pois serve ao júbilo e ao desencanto. No caso, o som estridente saudaria os impecáveis filés de linguado encomendados por Adolfo Gerchman, guarnecidos pela imponência de um Clos de Vougeot e por um soberbo tannat do Madiran vindos diretamente da frondosa adega do Romeu Mignoni, pioneiro dos vinhos extra classe na cidade. (...)
Leia a coluna do Anonymus na íntegra publicada na ZH e no blog dele.

sábado, 3 de julho de 2010

Ânfora partida

Por Jacob Klintowitz
Atordoantes rumos disparados e exposições de corpos sem identificação e o meu deslocamento guardando a minha sede e a sensação febril que transforma os elementos em uma única e estreita superfície colorida. Oh, os rumos disparados e as linhas e os contornos definidos que não encontro. Nesses lugares apenas os corpos expostos e a minha febre que os percorre procurando sempre as mesmas linhas e contornos definidos, a mesma extensão de luz. Não reconheço estes rumos, estes corpos. O deslocamento revela-me sombras e cores, mas está ausente a linha e o contorno definido e a extensão de luz e são atordoantes os rumos disparados, os corpos expostos a superfície colorida e a ausência de linha, do contorno e da extensão de luz que busco sempre.
Quem me perde? Que velocidade é esta e que superfície em cor me circula e me busca? Retorno à minha atividade que é tecer com os elementos a teia onde repouso e vivo. Posso caminhar por ela e estou protegida. É tão confortável aqui. Minha atividade é tecer a minha volta e estender-me. Os sons não fazem parte da minha teia. Onde o som que me penetrará? Quem me busca e estende esta sensação febril, esta superfície colorida, estes rumos disparados? Teço a minha teia e me estendo e construo-me e estou confortável no trabalho de mim mesmo e à minha volta há apenas o silêncio e nenhun som o penetra e estas sensações que me buscam eu as posso recolher e guardar a um canto para alguma vez tece-las e torná-las parte e extensão de mim mesmo.
Bailando a sua música desconhecida, algas estendem os seus fios e deixam que eles se cruzem e se voltem sobre si mesmo, retomem os caminhos, avancem um pouco mais, recuem, avancem, seguras do ritmo que as percorre. O som de um rio, de uma fonte, de água trabalhando suas escalas e o reflexo irisdescente sobre o corpo que é barco de si mesmo neste navegar suave e rodopiante, vestido de verde e cauda de peixes, beijado pelo sol e pela sombra, que avança e recua, indiferente às luzes que brincam na sua proa e ao seu destino de navegante que o mar joga na areia coberto de verdes e dourados.
Quem me sonha? Que música é esta e que dança me circula e envolve neste ritmo? A minha atividade é tecer à minha volta e estender-me. Os sonhos não fazem parte da minha teia. Onde o sonho me procurou? Quem me pensa e estende à minha volta esta tristeza, estas sensações coloridas e este barco no mar? Estou confortável no trabalho de mim mesmo e à minha volta há apenas o silêncio e não quero nenhum sonho. Não posso guardar e usá-lo na minha teia. Quero abrir-me e deixar que o vento o expulse, o leve para sempre, o deixe distante de mim.
Teria começado com as luzes ou com os sons? Ou não haveria separações e eu não os contemplava, mas os sentia dentro de mim, componentes da minha busca e da minha febre? E as luzes e os sons, eu os sentiria ou seríamos a mesma expressão e a mesma ânsia e a mesma angústia nesta busca e neste sonho? Na areia as marcas indistintas: por aqui terá passado uma caravana. Ondulante linha que acena o seu sim. O vento sopra estas marcas e, ora a luz, ora a sombra, não permite ver além.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

A felicidade existe mesmo sem glúten

Viver sem pão francês é quase um castigo, que o digam os celíacos. Nunca esqueço da minha amiga Zulmara Fortes que, ao descobrir que teria essa restrição na sua dieta, sofreu e enfiava o rosto no saco de pão francês pra sentir o cheirinho. Mas a Zulmara descobriu também que existem várias delícias sem glúten. Passei pra ela a dica de uma matéria sobre o Terraço Café, que eu li no site Radar55 e ela já conhecia o endereço e deu as suas dicas do que mais gosta lá:
"Eu gosto de quase tudo que a Liliam faz. Mas minha especial recomendação é a torta de limão. É de dar água na boca. Todos aqui em casa comem e se lambem. Também os pães dela são os melhores que já experimentei: de aipim, de batata doce, de beterraba. Ah! Não dá pra relacionar tudo, só se fizer um cardápio. Muitas coisas boas. E o que é melhor: o prazer de sentar num café e ter várias opções sem glúten para se deliciar na hora. Isso não tem preço para um celíaco (e o preço dela é justo e honesto - o que não é comum em se tratando de alimentos especiais)".
Foto Divulgação (Bolo de macaxeira), publicada no Radar55.
Terraço Café: Av. Venânico Aires, 105 - Cidade Baixa. Tels: (51) 3028-4795 e (51) 3084-4794.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Língua do chef Arthur Sauer, de São Paulo

Língua é uma carne para a qual muita gente torce o nariz, mas quando bem preparada - e há inúmeras maneiras de fazê-lo - é muito saborosa e nutritiva. Sua consistência é rija, portanto requer cozimento longo, até amaciar. A mais usada é a língua de boi ou vaca.
Esta receita foi minha amiga Luíza Estima quem mandou, do Roux Bistrô, que é cliente dela em SP. O chef é talentoso, me diz a Luíza, que é conhecedora do assunto e também apaixonada pela gastronomia. A receita é bem fácil, e se você quiser agilizar ainda mais na hora de servir, pode comprar nhoque pronto, que cai igualmente bem como acompanhamento.
Eu compro um nhoque de batata no mini mercado Perini, aqui em Porto Alegre, que é uma delícia e baratinho - uma dessas descobertas de pequenas indústrias que eu sempre falo, fornecedoras dos pequenos mercados. A marca é Gumarine (51 3259.6239), vem em pacotinhos de 500gr, por R$ 3,49 - contém 90% de batata e 10% de farinha de trigo e basta aquecer no microondas.
Mas é claro que você pode fazer o ravióli da receita, muito melhor!
E o Roux Bistrô está com o Festival de Língua, com outros pratos criativos e saborosos, como o Carpaccio de língua (com vinagrete de mostarda e mel, acompanha torradinhas), até o dia 18 de julho. Se estiver em SP, não deixe de conferir.

RECEITA

Língua com ravióli de ricota
Ingredientes para a Língua:
1 língua inteira
1 cenoura cortada em rodelas
1 talo de alho-poró fatiado
1 talo de salsão picado
1/2 colher de sopa de pimenta do reino em grão
Modo de preparo:
Colocar todos os ingredientes em uma panela grande e cobri-los com água, cozinhando em fogo brando por cerca de duas horas, até que a língua esteja macia. Escorrer o caldo e reservar. Com a carne ainda quente, retirar a pele. Esperar esfriar e levar ao freezer. Depois de congelada, fatiar.
Ingredientes para o Ravioli/Recheio:
500g de ricota
20g de creme de leite
15ml de azeite
15g de sal
Pimenta do reino moída a gosto
Modo de preparo:
Misturar todos os ingredientes com o auxílio das mãos até que a ricota esteja bem dissolvida. Reservar.
Ravioli/Massa:
1kg de farinha de trigo
8 ovos
10g de sal
Modo de preparo:
Misturar os ingredientes na mão até que fique uma massa homogênea. Abrir a massa em um cilindro e recheá-la com a ricota já preparada.
Para servir:
Colocar os raviolis para cozinhar em água fervente. Em outra panela, esquentar o caldo da língua. Quando estiver quente, adicionar a língua fatiada. Colocar os raviolis já cozidos junto com o molho. Servir no prato os raviólis com o molho, a língua sobre eles e salpicar um pouco de salsinha.