sexta-feira, 14 de maio de 2010

Brasil rural contemporâneo - uma realidade e uma promessa


A Feira está acontecendo até domingo no Cais do Porto e é um evento de extrema importância. Eu sempre estive atenta a esse tipo de empreendimento e às dificuldades que as famílias de produtores enfrentam para se colocarem no mercado.
Abaixo um artigo que escrevi em setembro do ano passado, por ocasião da Expointer, em Esteio (RS).
Juventude rural x Bilionário mercado de alimentos
Entre polêmicas como a lei sobre os índices de produtividade nas propriedades rurais e o novo Código Florestal, a Expointer deste ano mostrou uma tendência no campo que, apesar de ainda tímida, pode se configurar em um novo paradigma. O jovem rural que adquire conhecimento, volta ao campo para se estabelecer com a família e não quer mais deixar o interior.
A vida anda em ciclos. Se a industrialização foi um passo importante, difundindo tecnologia de produção e permitindo a conservação de perecíveis em larga escala, o caminho inverso se revela possível com estes jovens que voltam ao campo capacitados, dando ênfase às técnicas de cultivo sustentável, aos alimentos naturais.
Morei em Gramado por sete anos e vi que este movimento já se delineava alguns anos atrás. Até 1990 diminuía a população rural, mas a população urbana desde 2000 cresce menos acelerada. Os colonos que cultivam seus produtos buscaram informação, entenderam as novas conquistas com o alimento. Investem em frutas e verduras orgânicas, cogumelos e flores para buquês, e fabricam produtos sofisticados como queijo bursin, manteiga e sal com ervas aromáticas, pães e biscoitos integrais. Em conversa com estes trabalhadores se sente o prazer e o respeito com o produto que lhes dá o sustento. São pessoas que, como os jovens rurais agora em muito maior potência, combinam a cultura com a essência do alimento e nos dão um exemplo de amor à vida. Mas para essa agricultura familiar vingar, há que se encontrar modelos de comercialização que atendam a demanda dos consumidores preocupados com uma alimentação mais saudável.
Gramado encontrou o seu através da bela Festa do Colono, quando a cidade se enfeita de palha de milho e carros de boi. Com o sucesso crescente do evento, a Prefeitura instalou definitivamente no coração da área urbana uma Casa do Colono e fornos de barro, o que contribui no orçamento de seus trabalhadores rurais. E ainda mais: as feiras semanais de orgânicos e o turismo rural cada vez mais profissional e disputado na região. O Festival Internacional de Gastronomia de Gramado, que já se consolidou e promete crescer muito nos próximos anos, é outro evento que poderá contribuir para uma maior difusão dos produtos cultivados pelo agricultor gramadense.
São exemplos que urgem se multiplicar e por isso iniciativas como essa feira Brasil rural contemporâneo são tão importantes, pois gera conhecimento do público e promove rodadas de negócios para prospectar canais de distribuição. A demanda ainda não é tão grande, mas existe e é preciso ocupar os espaços, antes que governos, banqueiros e especuladores dos países ricos comprem todas as terras agriculturáveis do planeta, de olho no bilionário mercado de alimentos que só até 2030 aumentará em 50% (notícia alarmante que saiu no Estadão). E o movimento do jovem rural de volta ao campo morra na semente.
Saiba mais sobre a Festa da Colônia.

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