domingo, 10 de maio de 2009

ALMA PIXAIM

Adquiri, nesses infinitos anos assassinados junto a ti, uma tal artrite de emoções, que nem mais lembro se lágrimas existem. Dutos lacrimais oleosos. Nem mesmo a enzima da cebola, transformadora de ácido em fator lacrimogênio, é capaz de bambolear qualquer líquido em minhas faces.
Teu coração empedrou-se num tempo em que só as águas conheciam o universo. Soterraste minha glote no primeiro olhar, para jamais precisares me ouvir. Tu te valeste de minha inocência bigorrilha para me prender no jazigo das certezas imutáveis da tua mente. E minhas lágrimas nunca encontraram os oceanos – esqueci de chorar desde as células.
Pois ouso dizer-te agora: Nunca entendeste que a inocência é o ouro no coração dos homens.
Mas como poderias?
Usaste desde sempre o pedestal do teu conhecimento a prova de qualquer rajada como isca. Submerso no nevoeiro da soberba, subjugaste a todos que te amaram, como cobaias. Desprezaste nossos gestos. Ridicularizaste nossos sentimentos.
A mim dedicaste especial atenção, não foi? Nunca imaginaste que chegaria o dia em que minha alma pixaim não mais se curvaria a tua cabeça dourada.
E neste dia começou o desague de tua consciência a bordo do Alzheimer. O óleo supracitado escorreu pelas minhas faces como fonte inesgotável de lágrimas perdidas. Imaginaste que eu me regozijaria ante tua derrocada, não é mesmo?
Pois preciso dizer-te agora: O ódio só consegue ser momentâneo, quando nasce do sofrimento sem fim.