quarta-feira, 14 de abril de 2010

Prêmio Joaquim Felizardo


Ontem fomos prestigiar meu escritor Sergio Faraco (na foto Divino, Vera, Faraco e a sua filha Angélica), que recebeu o Prêmio Joaquim Felizardo, no Teatro Renascença.
Criado pela Secretaria Municipal da Cultura (SMC), o Prêmio Joaquim Felizardo homenageia em diversas áreas os artistas, intelectuais, iniciativas, mídia e patrocinadores de destacada contribuição para a cultura da cidade.

Ficamos emocionados com a Orquestra Infanto-Juvenil do IPDAE, da Lomba do Pinheiro, que subiu ao palco com vários dos seus integrantes. E ficamos gratificados de ver, no outro dia, uma matéria sobre o grupo no jornal ZH, pois reclamávamos justamente do pouco espaço na mídia para iniciativas como essa.

Os Premiados
01) Patrocinador Cultural: Walmart
02) Mídia
- Apoiador Cultural: Luís Grisólio
- Jornal: Hélio Nascimento
- Rádio: Programa Sessão Jazz - Paulo Moreira
- Tevê: Alice Urbim
- Especial: revista Norte
03) Tradição e Folclore: Glênio Fagundes
04) Descentralização da Cultura: Orquestra Infanto-Juvenil do IPDAE
05) Manifestações Populares: Rosalina Conceição - Bambas da Orgia
06) Memória Cultural: UFRGS - Recuperação de Prédios Históricos
07) Fotografia: Dulce Helfer
08) Cinema: Antônio Carlos Textor
09) Artes Plásticas: Danúbio Gonçalves
10) Dança: Coletivo de Dança Sala 209
11) Teatro: Ivo Bender
12) Música: Celso Loureiro Chaves
13) Literatura: Sérgio Faraco
14) Especial - Paixão pela Cultura: Ruy Carlos Ostermann
15) Especial - Intelectual: Antônio Hohlfeldt

Delícias judaicas da Sabra

Ontem fui na Palavraria levar para o Fernando, organizador da FestiPoa Literária, o DVD do curta-metragem adaptado do conto de Sergio Faraco, Um aceno na garoa, que será exibido na quarta-feira, dia 21, no CineBancários, e como eu estava ali ao lado da Fernandes Vieira, dei um pulinho na Sabra pra comprar algum quitute para o jantar.
Adoro todas as comidinhas judaicas da Sabra e comprei Varenikes (pasteizinhos cozidos recheados de batata ou ricota), que é só aquecer no forno. R$ 15,00 a bandeja com 20, é um bom preço. Mas claro que nunca consigo sair com um único pacote e comprei também uns salgadinhos de parmesão e alho (o formato parece de uma hóstia), levam apenas um pouquinho de farinha de trigo pra dar liga na massa e por isso o gosto é bem forte. R$ 5,00 o saquinho, mas, como eu já falei, é forte e, portanto, você não vai devorar todo o saco de uma vez só. Pensei que o Homus daria uma boa combinação (veja a foto) e não me enganei, fica muito gostoso, equilibrando sabores forte e suave. Comprei ainda um potinho de Berinjela picante, que é sempre uma delícia, por R$ 6,00.
Aproveitei que estava na frente do Zaffari e entrei pra fazer as outras compras do dia-a-dia e peguei ainda pão árabe, da Baalbek, por R$ 3,35 (saco de 400gr) e alho-poró. Adoramos beirute de presunto e queijo com alho-poró em rodelinhas e um fio de azeite. Faço na torradeira mesmo.

SERVIÇO
Sabra - R. Fernandes Vieira, 366. Bom Fim. Tel: 3311.3666
Zaffari Fernandes Vieira – R. Fernandes Vieira, 401. Bom Fim. Tel: 3311 5868.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Viva! Aspargos frescos por um bom preço

Aspargos frescos são uma dádiva da natureza. Pra mim, não há vegetal mais saboroso. A primeira vez que provei foi uns 20 anos atrás, no tradicionalíssimo restaurante do Hotel Ca´d´Oro, em São Paulo, num almoço com o José Onofre e o Armando Coelho Borges, e até hoje lembro de como vibrei. Era bem desse jeitinho que passo a receita pra vocês, só salteado na manteiga. Ficou sendo um dos meus pratos prediletos.
No Hemisfério Sul, a época dos aspargos é na primavera, entre setembro e dezembro, mas como são cultivados também em estufas, podemos encontrá-los o ano todo. Sempre que vou ao Mercado Público de Porto Alegre, dou uma especulada nas bancas, mas o preço me desanima, acho caro R$ 15,00 por um molho magrinho de aspargos. Mas na sexta-feira encontrei no supermercado Nacional um molho de aspargos brancos, grossos, lindos, por R$ 6,90 e comprei na hora, claro! São importados do Peru, os maiores produtores hoje em dia, junto com o México, e cultivam diversas variedades, como estes brancos (crescem privados da luz) e verdes (são mais ácidos) e também os violetas (mais doces). Fiz para o almoço de domingo na casa da minha mãe, pois ela estava preparando uma paleta de cordeiro no forno, temperada como só ela consegue, misturando alho, alecrim, sálvia, pimenta e vinho. Levei um pão de centeio com sementes de papoula e uma baguete, da Carina Barlett Boulangerie (a melhor padaria da cidade, segundo votação da Revista Veja Comer & Beber Porto Alegre deste ano - eu assino embaixo). A minha mãe ainda preparou uma bela salada de folhas verdes e outra salada de batatas com maionese caseira para o pimpolho. Acompanhamos de um Cabernet Franc.

RECEITAS
Aspargos na frigideira
(Para 4 pessoas)
INGREDIENTES
Um molho de aspargos brancos ou verdes, grossos ou finos.
Manteiga
Sal
Salsa
MODO DE FAZER
Aqueça 2 colheres de sopa de manteiga numa frigideira larga, junte os aspargos inteiros, salpique um pouco de sal e cozinhe por cerca de 3 minutos (aspargos finos) ou 4 minutos (aspargos grossos), virando-os para que cozinhem por igual. Acrescente um punhadinho de salsa picada. Os aspargos brancos ficarão lindos, com um tom castanho.
Dicas: Eu sempre gosto de acrescentar um toque de vinho (ou de outra bebida alcóolica) no preparo dos pratos, mas os aspargos são meio complicados. De qualquer forma, dá pra dar um toque com um vinho branco encorpado.
Acrescente poucos grãos de pimenta branca na hora de aquecer a manteiga, se quiser dar um perfume a mais e um picante no prato.
Leve para a mesa na própria frigideira e passe o pão no molhinho do fundo.

Aipo e aspargos grelhados
(Para 4 a 6 pessoas)
Corte 110g de aspargos e 12 pedaços de aipo de 12cm e unte tudo ligeiramente com óleo de noz de macadâmia (a rainha das nozes, natural da Austrália) e asse no forno quente durante 3 minutos ou até estarem tenros. Deite por cima um pouco de vinagre balsâmico, salpique com pimenta e cubra com raspas de queijo parmesão (ou mesmo com parmesão ralado grosso, o melhor que temos nos supermercados é o da Kunzler).
Essa receita é do Livro essencial da cozinha vegetariana. Há outras ótimas receitas com aspargos, aliás, com todos os vegetais, é um livro indispensável na biblioteca de qualquer amante da culinária.

SERVIÇO
Supermercados Nacional – Loja do bairro Tristeza, na AV. WENCESLAU ESCOBAR, 2770
Carina Barlett Boulangerie – Rua João Telles, 237. Bom Fim. POA. Tel.: 51 3222.7878. Todos os dias, das 9h às 21h.
Grand Hotel Ca’d’Oro – Rua.Augusta, 129. Centro. SP. Tel: 11 3236.4300. DDD Gratuito: 0800 17 00 90. O hotel fechou em dezembro de 2009, com a promessa de reabrir depois de uma reforma – leia no blog da Alexandra Forbes e no Estadão.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

O cortiço

A coluna de hoje do David Coimbra é cirúrgica na análise do que está acontecendo no Rio de Janeiro e que é um retrato de toda uma vergonha do nosso Brasil.
(...) O Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão, mas nem ao aboli-la lavou-se de sua desonra. Agora mesmo, no Rio de Janeiro flagelado, lateja essa dor. Pois quem são esses que morrem sufocados pela terra que se desprende dos morros cariocas? Descendentes de escravos e ex-escravos expulsos do Centro quando o Rio se transformou no que hoje é. (...)Essa gente pingente das favelas não foi libertada da escravidão; foi atirada à liberdade. Para eles, nunca houve planejamento, muito menos investimento. Hoje, Lula dá certa atenção a esses desgraçados. Não é o ideal, claro que não. Porque não é uma ajuda estratégica; é uma ajuda tática. Mas, ao menos, é algo. Para quem não tinha nada, talvez seja muito. (...)
A coluna deve ser lida na íntegra, acesse o blog do David Coimbra.

domingo, 4 de abril de 2010

Páscoa em Gramado ainda é uma boa pedida


A cidade esteve muito cheia e o trânsito lento. Mas ainda é um lugar bacana de se ir na Páscoa, por toda a tradição do chocolate.
A dica aqui é dos chocolates Prawer, que teve grande procura pelos ovos e outras delícias, assim como os lanches da Casa da Velha Bruxa. E não é por ser meu cliente, é que o chocolate da Prawer é mesmo o melhor chocolate artesanal que temos aqui no Sul. Aliás, é meu cliente por ser o melhor, como eu poderia trabalhar com outro chocolate, sendo tão criteriosa nestes assuntos gastronômicos?
Visite o blog da Prawer e saiba mais.
A decoração nas ruas de Gramado perdeu para Canela, mais criativa e lúdica. Mas para comer, Gramado ainda ganha disparado. Uma ótima dica continua sendo o Moscerino, do Muskito, sempre atencioso e apresentando sua cozinha competente. No jantar de sábado eu pedi nhoque com abobrinha, cogumelos e molho de vinho e ervas, meu sobrinho Pedro pediu nhoque com molho gorgonzola e iscas de filé, a namorada dele, Marina, pediu um talharini verde com camarões e o meu filhote Cássio (que está se saindo um ótimo fotógrafo - veja a foto aí abaixo), seu eterno spaghetti ao pesto. Os pratos estavam todos excelentes. E o Di Pietro, do Josiano, também merece ser citado. O buffet está cada vez melhor e no almoço da Sexta-feira Santa era difícil optar entre tantas opções de peixes, maravilhosos. Fui no bacalhau grelhado no ponto, tenro e úmido, perfeito.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Caça ao ninho em Gramado

Promovemos o evento no Parque Knorr nesta Páscoa e foi muito bacana.
Veja a matéria da Rede Bandeirantes, mas não reparem no meu cabelo todo desgrenhado..
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Comer mal é um vício ou temos escolha?


Reportagem da revista Época desta semana:
Um novo estudo sugere que a gordura cria dependência como cocaína e heroína. O guru da alimentação saudável dá 20 lições para evitar ser refém do lixo alimentar

Francine Lima (texto) e Sattu (ilustrações)

Quando alguém menciona drogas viciantes, o que vem à mente são substâncias ilegais como cocaína, crack ou heroína. Pelo que se sabe, não há níveis seguros para o consumo dessas drogas. A orientação é ficar longe delas. Desde a semana passada, a ciência médica acrescentou à lista de produtos capazes de provocar dependência algo assustadoramente próximo de nós: a comida gordurosa. Um estudo com ratos publicado na revista Nature Neuroscience sugere que o consumo de alimentos ricos em gordura leva ao desenvolvimento de um tipo de dependência parecida com a que afeta os viciados em cocaína ou heroína. O cérebro dos ratos superalimentados, assim como nos dependentes químicos, apresenta uma queda acentuada nos níveis de substâncias responsáveis pelas sensações de prazer, conhecidas como receptores de dopamina. Com menos receptores, o organismo precisa de quantidades de gordura cada vez maiores para que o cérebro registre satisfação. É o mesmo mecanismo cerebral do vício humano em drogas. A pesquisa, feita apenas em ratos, confirmou em laboratório pela primeira vez aquilo de que muitos especialistas já suspeitavam: certos tipos de comida viciam.
“Espero que este estudo mude a maneira como muitos pensam sobre comida”, diz Paul Johnson, coautor do estudo realizado no Scripp Research Institute, da Flórida. “Ele demonstra como a oferta de comida pode produzir superalimentação e obesidade.”
Ao vincular dependência química à alimentação, a pesquisa divulgada na semana passada lança uma série de novas questões – e reanima velhos fantasmas – no debate sobre comida. Levada às últimas consequências, ela pode até mesmo sugerir que os consumidores são manipulados pela indústria do fast-food do mesmo modo como jovens são aliciados por traficantes na porta das escolas. Trata-se do tipo de estudo que traz alento àqueles que acreditam que somos reféns de uma indústria alimentar inescrupulosa, incapaz de manifestar uma preocupação genuína com a saúde – e afirmam que o cidadão precisa de regras quase policiais para controlar a comida, assim como precisa da polícia antidrogas.
A diretora do Nida (o instituto do governo americano contra o abuso de drogas), Nora Volkow, chegou a afirmar que o novo estudo ajudará a aplicar o conhecimento adquirido no combate à dependência química ao tratamento da obesidade. Depois de proibir o fumo e limitar o consumo e a propaganda de álcool, a brigada dos militantes pelo controle alimentar passa, portanto, a dispor de mais argumentos para defender restrições à batata frita ou ao churrasco. “É improvável que proíbam a picanha como fizeram com a cocaína”, diz o neurocientista Jorge Moll, coordenador do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, do Rio de Janeiro. “Mas o experimento com ratos sugere que deixar de comer compulsivamente não depende só de força de vontade.”
Afinal, o que há de fantasia e de realidade nessa visão? Estaríamos indefesos diante da gordura como diante do tabaco – e seu consumo deveria ser restrito? Até que ponto a indústria alimentar tem tanto poder de controlar o que come o consumidor? Não é possível a cada um de nós, de acordo com nosso livre-arbítrio, escolher uma alimentação saudável e viver comendo bem?
Para responder a essas questões, é preciso analisar de perto as evidências científicas. Os próprios experimentos com ratos sobre o vício oferecem evidências ambivalentes. Em seu estudo, Johnson e seu colega, Paul Kenny, dividiram os animais em três grupos. O primeiro grupo foi alimentado com ração comum. O segundo teve acesso restrito a comida gordurosa, comparável à que encontramos numa lanchonete. O terceiro teve acesso quase ilimitado. Os ratos do último grupo se esbaldaram numa comilança compulsiva. Ao final de 40 dias, estavam mais gordos e, além do maior peso, foi observada alteração nos centros cerebrais de prazer similar à de ratos drogados com substâncias como cocaína e heroína.
Os militantes passam a ter mais argumentos para defender restrições à batata frita e ao churrasco
ORGÂNICO
Ele é contra qualquer comida que nossos avós não reconheceriam como tal. Mas isso deixa muita coisa saudável de fora Mas outra experiência realizada em 1981, também com ratos e tóxicos, lança outra luz sobre o tema. Ela foi conduzida pelo psicólogo canadense Bruce Alexander, da Universidade Simon Fraser. Alexander construiu um verdadeiro parque de ratos, com 8,8 metros quadrados. O lugar era aquecido, com brinquedos coloridos e bastante espaço. Os ratos do parque e outro grupo de ratos – estes engaiolados – receberam água com morfina por 57 dias, até ficar viciados. Depois, passaram a ter água pura como opção. O grupo enjaulado continuou consumindo água com morfina. Os ratos do parque reduziram gradualmente o consumo da droga. Apesar dos sintomas de abstinência, quando recebiam água com morfina, preferiam beber água pura. Alexander usou a experiência para demonstrar que, num ambiente saudável, os ratos – e por analogia talvez as pessoas – conseguem se livrar mais facilmente de um vício. Basta ter condições de fazer a escolha certa.
Convivemos com substâncias potencialmente perigosas o tempo inteiro – álcool, tabaco, remédios e uma infinidade de substâncias ilegais –, sem que nos tornemos necessariamente reféns delas. Com a comida não é diferente: tudo depende das escolhas individuais e das circunstâncias. Há diferentes predisposições ao vício, diz o psiquiatra Marcelo Niel, da Universidade Federal de São Paulo. Alguns podem usar drogas recreativamente sem se viciar, outros ficam totalmente dependentes. Essa diferença depende de componentes genéticos e ambientais, ainda não completamente esclarecidos. O comportamento compulsivo seria uma válvula de escape para ativar centros de prazer. “Em alguns pacientes que comem compulsivamente, se tiramos a comida, eles podem desenvolver sintomas psiquiátricos mais pronunciados”, diz Niel.
Há, portanto, uma dose de oportunismo nas comparações entre gordura e drogas e na defesa de restrições draconianas à indústria alimentar. O ativista americano Michael Pollan ficou conhecido com o livro O dilema do onívoro como um dos maiores críticos da forma como é feita a comida que chega a nossa mesa. Pollan e o italiano Carlo Petrini, fundador do movimento Slow Food (o oposto do fast-food), afirmam que a indústria não para de nos empurrar porcarias goela abaixo. Mas mesmo Pollan acredita que, para combater a obesidade e a má alimentação, o melhor caminho é respeitar o livre-arbítrio. Em seu novo livro, Food rules (Regras da alimentação), lançado nos Estados Unidos no final de 2009, ele sugere que retomemos o controle de nossa vida alimentar por meio da cozinha tradicional, que nos foi legada por nossos pais e avós.
O trabalho de Pollan fornece um dos alicerces do movimento global pela revalorização da comida natural. Ele se propõe a responder a uma questão pertinente à alimentação em qualquer país industrializado: abandonar os modos antigos à mesa e ceder às novidades do mundo moderno faz bem ou faz mal à saúde? Ele já tinha vendido até a semana passada mais de 700 mil exemplares nos EUA. O livro, que não tem data para sair no Brasil, se organiza em torno de 64 frases que qualquer adolescente instruído é capaz de entender (20 delas estão reproduzidas no fim da página). Nos textos curtos que acompanham cada regra, Pollan faz parecer que ninguém precisa acompanhar o noticiário científico nem ouvir nutricionistas para fazer escolhas alimentares certas. Para ele, comer bem é mais simples do que a brigada policial da nutrição ou a indústria querem que a gente pense. Basta se guiar pelas tradições, confiar na cultura alimentar passada de mãe para filho e abandonar tudo o que cheire a ciência moderna como principal referência quando se trata de comida. “Ao longo de quase toda a história da humanidade, os homens acharam a resposta sobre o que comer sem a ajuda de especialistas”, diz Pollan.

Em seu livro anterior, Em defesa da comida, Pollan defendia uma tese parecida. Para ele, a divulgação fragmentada das descobertas da ciência sobre o papel dos nutrientes na saúde humana confunde mais do que ajuda. Ele chama isso de “nutricionismo”. A indústria, afirma Pollan, aproveita as descobertas científicas da semana e lança no mercado alimentos com substâncias pretensamente mágicas. Esse posto já foi da gordura ômega 3, presente naturalmente em peixes como salmão e adicionada artificialmente em algumas marcas de óleo de cozinha. O argumento científico subjacente é que, segundo algumas pesquisas, o consumo do ômega 3 está associado à redução de doenças cardiovasculares. Mas a indústria não diz, segundo Pollan, que a substância não faz milagres sozinha, sobretudo quando integrada a uma dieta desbalanceada. “Quem se preocupa com a saúde provavelmente deveria evitar produtos que fazem alegações quanto a benefícios para a saúde”, diz Pollan.
Iniciada no exterior, a pregação pela alimentação tradicional e natural já chegou ao Brasil. A paulistana Ceni Salles é uma das primeiras brasileiras a investir nela. Em sua infância, numa chácara em Suzano, na região rural do Estado, conviveu com 1.200 espécies de vegetais. Nos anos 80, criou um restaurante natural, Cheiro Verde, e depois uma loja de alimentos orgânicos, o Empório Siriuba. Nos últimos anos, diante da demanda, especializou-se em prestar consultoria para restaurantes e hotéis, montando cardápios. Hoje, é uma das líderes do movimento Slow Food no Brasil. “Adoro os livros do Pollan”, diz ela.
Há duas semanas, o encontro Terra Madre reuniu em Brasília 700 produtores, chefs famosos e pesquisadores da área de alimentos. Eles pregam a convivência entre produtores e consumidores. “Somos todos coprodutores”, diz Ceni. “Nossas escolhas como consumidores orientam o mercado produtor.” Diversas organizações estão se mobilizando para promover o consumo consciente de alimentos. Numa pesquisa do Datafolha divulgada no mês passado, 75% dos pais de crianças entre 3 e 11 anos afirmaram estar preocupados com a qualidade da alimentação dos filhos e com a enorme oferta de guloseimas industrializadas.
Embora tenha seus méritos, a tese anti-industrial de Pollan resvala no radicalismo. Não existe, na vida real, uma divisão absoluta entre o tradicional e o inovador ou entre o natural e o industrializado. A indústria de alimentos não é homogênea. Cada empresa trabalha de acordo com valores diferentes. Não é difícil encontrar, no mesmo supermercado, exemplos de alimentos bons e ruins para a saúde. Ao contrário do que reza o radicalismo de Pollan, produtos inovadores inimagináveis no tempo de nossas avós não são necessariamente nocivos. Tampouco o contrário é verdadeiro. Feijoada completa e leitão à pururuca, embora tradicionais e deliciosos, não são os pratos mais saudáveis em qualquer cardápio.
A industrialização dos alimentos contribuiu para melhorar a saúde. O médico nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia, afirma que a industrialização aumentou a expectativa de vida no mundo ocidental. Em 1900, a longevidade média no Brasil era de 44 anos. Hoje, é de 72, com o aumento da obesidade. Antes da industrialização, todos os alimentos estavam à mercê do tempo e apodreciam mais rapidamente. Nem todos sabiam o momento certo de jogar a comida fora. “A insegurança alimentar predominava”, diz Ribas. No contexto em que se misturam boas e más inovações, a contribuição de Pollan é nos alertar para a necessidade de escolher com cuidado aquilo que comemos. A melhor maneira de comer, aquela que permite evitar a obesidade e preservar a saúde, é escolher o que há de melhor entre as várias opções. Da comida feita no fogão a lenha à prateleira do supermercado, hoje há mais chances de escolher alimentos de qualidade. Ninguém precisa consumir a gordura que provoca obesidade e dependência química em ratos. A informação sobre a indústria de produção e distribuição de comida é a melhor forma que temos para exercer de maneira saudável nosso direito de escolha e nosso livre-arbítrio. Ela ainda é nossa melhor arma contra qualquer vício.