A Feira está acontecendo até domingo no Cais do Porto e é um evento de extrema importância. Eu sempre estive atenta a esse tipo de empreendimento e às dificuldades que as famílias de produtores enfrentam para se colocarem no mercado.
Leia notícias no site da feira e sobre "A força da agricultura familiar"
Abaixo um artigo que escrevi em setembro do ano passado, por ocasião da Expointer, em Esteio (RS).
Juventude rural x Bilionário mercado de alimentos
Entre polêmicas como a lei sobre os índices de produtividade nas propriedades rurais e o novo Código Florestal, a Expointer deste ano mostrou uma tendência no campo que, apesar de ainda tímida, pode se configurar em um novo paradigma. O jovem rural que adquire conhecimento, volta ao campo para se estabelecer com a família e não quer mais deixar o interior.
A vida anda em ciclos. Se a industrialização foi um passo importante, difundindo tecnologia de produção e permitindo a conservação de perecíveis em larga escala, o caminho inverso se revela possível com estes jovens que voltam ao campo capacitados, dando ênfase às técnicas de cultivo sustentável, aos alimentos naturais.
Morei em Gramado por sete anos e vi que este movimento já se delineava alguns anos atrás. Até 1990 diminuía a população rural, mas a população urbana desde 2000 cresce menos acelerada. Os colonos que cultivam seus produtos buscaram informação, entenderam as novas conquistas com o alimento. Investem em frutas e verduras orgânicas, cogumelos e flores para buquês, e fabricam produtos sofisticados como queijo bursin, manteiga e sal com ervas aromáticas, pães e biscoitos integrais. Em conversa com estes trabalhadores se sente o prazer e o respeito com o produto que lhes dá o sustento. São pessoas que, como os jovens rurais agora em muito maior potência, combinam a cultura com a essência do alimento e nos dão um exemplo de amor à vida. Mas para essa agricultura familiar vingar, há que se encontrar modelos de comercialização que atendam a demanda dos consumidores preocupados com uma alimentação mais saudável.
Gramado encontrou o seu através da bela Festa do Colono, quando a cidade se enfeita de palha de milho e carros de boi. Com o sucesso crescente do evento, a Prefeitura instalou definitivamente no coração da área urbana uma Casa do Colono e fornos de barro, o que contribui no orçamento de seus trabalhadores rurais. E ainda mais: as feiras semanais de orgânicos e o turismo rural cada vez mais profissional e disputado na região. O Festival Internacional de Gastronomia de Gramado, que já se consolidou e promete crescer muito nos próximos anos, é outro evento que poderá contribuir para uma maior difusão dos produtos cultivados pelo agricultor gramadense.
São exemplos que urgem se multiplicar e por isso iniciativas como essa feira Brasil rural contemporâneo são tão importantes, pois gera conhecimento do público e promove rodadas de negócios para prospectar canais de distribuição. A demanda ainda não é tão grande, mas existe e é preciso ocupar os espaços, antes que governos, banqueiros e especuladores dos países ricos comprem todas as terras agriculturáveis do planeta, de olho no bilionário mercado de alimentos que só até 2030 aumentará em 50% (notícia alarmante que saiu no Estadão). E o movimento do jovem rural de volta ao campo morra na semente.
Saiba mais sobre a Festa da Colônia.
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